Alguns pais e encarregados de educação consideram que as despesas da retoma das aulas vêm agudizar a situação financeira já debilitada devido à carestia da vida e à COVID-19. Face a esse cenário, há quem teve que recorrer a agiotas para conseguir comprar o material escolar para os seus filhos.
As aulas arrancam na próxima semana e, com isso, também começa uma nova etapa de apertos financeiros em algumas famílias. Residente no Bairro Maxaquene B, este encarregado, pai de três filhos não imaginava que o Governo iria tomar essa decisão, pelo menos por agora.
“Trata-se de uma dor de cabeça, porque as despesas decorrentes do arranque das aulas, compra de material escolar não é fácil”, relatou um pai que preferiu não apresentar o seu nome.
Com as despesas a sufocarem o seu bolso, o funcionário público viu-se na obrigação de tomar decisões difíceis para conseguir comprar o material escolar para os seus filhos. “Optei por pedir empréstimo a um agiota. Fiz pelos meus filhos, porque eu não quero que eles se desloquem à escola e vejam que os seus colegas têm uniforme e outras condições e eles não. Se isso acontecer, elas podem sentir complexos de inferioridade e isso pode afectar o futuro delas. Entendo que, como pais, temos que, no meio das adversidades, arranjar soluções”, explicou o pai que defendeu que a retoma não é do seu agrado “porque entendo que as escolas privadas são as que pressionaram o Governo, porque estavam a ficar falidas. Entendo que esta reabertura é temporária, porque daqui a algum tempo as escolas terão de fechar”, vaticinou.
Quem igualmente teve que fazer um esforço é Fernando Guirrugo, estudante universitário e pai de Hilária, também estudante do ensino superior. Guirrugo que tem mais dois filhos no ensino secundário contou que teve que redimensionar os seus objectivos. “Tal como qualquer pai, não estava a espera que o Governo iria tomar esta nestas alturas. Quando soube tive que desviar as economias que temos para arcar com os custos com o material escolar”, explicou para depois avançar que mais do que as despesas inerentes à formação, a estas alturas associam-se às causadas pela pandemia.
“Temos que investir nas máscaras, no álcool entre outras despesas inerentes a essa doença. São custos e mais custos para os nossos bolsos e a situação deverá agudizar nos próximos tempos, porque a vida está cada vez mais cara. Será um desafio”, lamentou.
Entretanto, um desafio, que a sua filha prefere enfrentar, porque, com o ensinoonline, não estava a surtir bons efeitos.
“Tinha dificuldades com a qualidade da internet, vezes sem conta o docente estipulava um tempo para a entrega do trabalho, mas que, devido a essas situações, muitos de nós atrasávamos entregar e nem sempre eles compreendem estas situações. Por isso, sou a favor da retoma”, disse Hilária Guirrugo.
Mas para a família Chiluvane, as coisas não são bem assim. Pai de Cátia e Lite, dois estudantes universitários, Júlio Chiluvane, que também é avô disse temer pelos seus netos. “Este vírus é muito perigoso, todo o cuidado é pouco. Todos nós estamos vulneráveis a estar doente. Temo pela minha família”, expressou o seu temor.
Trata-se de um vírus que agora dá origem a perguntas a que a sua filha Cátia Chiluvane não consegue responder. “O Governo abriu as escolas, mas não explicou como seremos transportados nesse contexto de pandemia. Até agora, não vejo soluções para um problema crónico e que dificulta as nossas vidas”, desabafou a estudante do terceiro ano do Curso de Administração Aduaneira.
Lembra-se que, para o ensino pós-laboral, o Ministério do Ensino Superior emitiu um ofício no início deste mês a recomendar as universidades a reduzir a carga horária no período de pós-laboral para que os estudantes cheguem às suas casas antes das 21 horas. O mesmo documento exorta que as faculdades explorem a possibilidade de estender as aulas para os sábados.
0 Comentários