“Há uma necessidade urgente de vacinação nos países da África Austral, que estão a debater-se para dar resposta à propagação agressiva da nova estirpe do vírus [novo coronavírus], a qual está a pôr os seus sistemas de saúde em sobrecarga”. Esta é a posição da organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), que se mostra preocupada com a distribuição desigual das vacinas contra Covid-19, no mundo, num momento em que a nova estirpe se propaga a uma velocidade luz.
Em comunicado de imprensa, distribuído à imprensa, nesta quinta-feira, a organização insta a uma distribuição equitativa das vacinas para a Covid-19, dando-se prioridade e protecção aos profissionais de saúde, que estão na linha da frente, e às pessoas em elevado risco de doença grave e de morte devido à doença que, em Moçambique, já matou 427 pessoas.
Segundo a organização, em Moçambique, o número de infecções é, actualmente, quase sete vezes maior do que no pico da primeira vaga. Só nesta quinta-feira, por exemplo, as autoridades da saúde reportaram a infecção de mais 1.055 pessoas, o internamento de mais 38 pacientes e a morte de mais 12 indivíduos. “Profissionais de saúde estão a ficar doentes e quem continua a conseguir trabalhar encontra-se em exaustão”, reporta a chefe da missão da MSF, em Moçambique, Natália Tamayo Antabak, citada na nota.
Buscando três realidades (Moçambique, Malawi e Eswatini), a organização ilustra, por exemplo, que no vizinho Eswatini são reportados 200 novos casos todos os dias e o número de mortes é cerca de quatro vezes superior ao verificado na primeira vaga, com profissionais de saúde a reportarem que os pacientes estão agora a ficar mais gravemente doentes.
“Com as estruturas de saúde sobrecarregadas, equipas da MSF montaram tendas hospitalares de campanha no centro de saúde de Nhlangano e reforçaram-se com mais profissionais médicos e de enfermagem para tratar pacientes de COVID-19 em estado crítico”, sublinha a organização.
Já no Malawi, os Médicos Sem Fronteiras revelam que os novos casos aumentaram exponencialmente em Janeiro, com os números a duplicarem a cada quatro a cinco dias. Por exemplo, o Hospital Central Queen Elizabeth, principal unidade sanitária para o tratamento de pacientes com Covid-19, na cidade de Blantyre, está perto da capacidade total para pacientes que precisam de oxigénio medicinal.
“Se Malawi tivesse 40.000 doses de vacinas, poderíamos pelo menos começar a vacinar profissionais de saúde que estão nos locais mais críticos no país. Sem isso, a situação ficará insustentável muito em breve”, explica a chefe da missão MSF, Marion Péchayre, revelando que, até terça-feira, 1.298 profissionais de saúde tinham testado positivo, no Malawi.
“Estamos chocados com a distribuição desigual das vacinas para a Covid-19 que está a ser feita no mundo. Enquanto muitos países ricos começaram já há quase dois meses a vacinar os seus profissionais de saúde e outros grupos, países como o Eswatini, Malawi e Moçambique, que estão a enfrentar dificuldades para dar resposta a esta pandemia, não receberam ainda uma única dose de vacina para proteger as pessoas em mais elevado risco, no que se incluem profissionais de saúde na linha da frente”, defende a Directora de operações da MSF, Christine Jamet, também citada no documento.
“Seria indefensável se alguns países começassem a vacinar os seus cidadãos em baixo risco, enquanto muitos países em África ainda estão à espera de vacinar os seus primeiros profissionais de saúde na linha da frente”, acrescenta, instando os fabricantes de vacinas a garantirem prioridade aos países que têm necessidade urgente de proteger os seus profissionais de saúde.
0 Comentários