Um esquema organizado, lucrativo e que facilita a passagem clandestina de milhares de moçambicanos ao tão sonhado el dourado: a terra do rand. Um circuito que envolve os imigrantes (beneficiários), pequenos transportadores (facilitadores) e a Polícia de Fronteira (a chancelaria). 

Tudo começa no terminal da Junta, onde milhares de moçambicanos, sem documentos, formam longas filas para ter acesso a Namaacha. Namaacha…um local “abençoado”, dizem os ilegais, por os permitir chegar à terra prometida. Todos eles sabem como funciona o esquema e há quem já faz essa travessia há 15 anos. Sim 15 anos numa ilegalidade que é assumida como sendo normal. Entretanto, o martírio não termina por ai.

NAMAACHA E…OS FACILITADORES! 

Todos os anos, a partir do dia 1 de Janeiro, o terminal de semi-colectivos de Namaacha assiste a um movimento incomum de pessoas: são os ilegais, sendo que seu objectivo é de chegar à Macuácua, localidade que faz fronteira com Mbuzine (território sul-africano). Por ali, vários proprietários de viaturas particulares lutam para transportar passageiros. Eles sabem que também são ilegais, por isso estacionam as suas viaturas fora do terminal. Entre os transportadores a imprensa não é bem-vinda, por isso toda a informação só pode ser adquirida escondendo a identidade. Normalmente, a viagem para a zona de Macuácua custa entre 30 e 50 meticais, mas com a procura crescente o valor disparou para 100 meticais.

A equipa do “O País” seguiu algumas viaturas no percurso de cerca de 15km que vai dar à Macuácua. Ao longo do percurso, a “O País” encontrou dois jovens, tio e sobrinho que pretendiam atravessar ilegalmente, pela primeira vez. Após uma negociação aceitaram dar entrevista na nossa viatura. “Estamos a usar esta via porque nos disseram que podemos passar facilmente. Conheço muita gente que já passou por aqui lá em Gaza. Não temos passaporte, temos sim dinheiro para pagar aos polícias”, detalhou Albino natural de Chibuto e que se fazia acompanhar do seu sobrinho também sem documentos.

Deixamos os jovens avançarem…quanto mais nos aproximávamos à placa que dá indicação da proximidade da zona de Mbuzine, os residentes foram informando a Polícia sobre a nossa presença. Isso fez com que os agentes não nos permitissem passar até a zona de Macuácua. “Mano vão lá para casa, senão vamos vos prender. Nós violamos a Constituição, mas prendemos, não temos problemas, depois vamos justificar”, disse à nossa equipa o agente identificado como sendo o chefe da brigada.

ONDE REINA A LEI DO SILÊNCIO…

Muitos moradores que vivem ao logo da via – estreita e alcatroada – que vai dar a Macuácua têm medo de falar sobre o assunto. Por lá reina a lei do silêncio.

O nosso jornal conseguiu falar com um dos transportadores que levam os ilegais até Macuácua e explicou como tudo funciona. “É um esquema que está muito bem arquitetado. Quando tu chegas (à Macuácua) não precisas conversar com os agentes. Ali não se complica a ninguém. Outro detalhe, não se cobra em meticais, todos os moçambicanos que fazem a travessia sabem. Para passar tem que se pagar um valor de 200 rands por pessoa. Quando o viajante passa, eles passam-nos 100 rands em jeito de recompensa”, detalhou a nossa fonte.

UM NEGÓCIO LUCRATIVO…

O transportador explicou ainda que, nessas alturas, faz-se muito dinheiro, razão pela qual, há muitos residentes de Namaacha a fazer o negócio de transporte.

“Arrisco-me a dizer que todos os que têm carros em Namaacha aventuram-se para este negócio, porque dá muito dinheiro. Estou a falar, por exemplo, das pessoas que têm carinhas de caixa aberta esses facturam mais, porque de uma só vez podem transportar 15 pessoas e fazem mais do que três viagens. A cobrar 100 meticais por pessoa da vila à Macuácua e mais os cem rands por pessoa é muito dinheiro em jogo”, precisou.

Noutro desenvolvimento, o também residente de Namaacha avançou que trata-se de um negócio vem há anos e é de conhecimento das autoridades locais.

Este é o retrato de um negócio ilegal, lucrativo e que facilita a imigração ilegal de milhares de moçambicanos que procuram melhores condições de vida na África do Sul.